Paulista Mariana D’Andrea busca primeiro ouro do Brasil em Campeonato Mundial contra nigeriana e francesa na categoria até 79kg; seleção conta com 23 atletas na disputa que começa na terça-feira, 22
A campeã paralímpica e vice-campeã mundial Mariana D’Andrea, 25, realizou seu primeiro treino em Dubai junto com a Seleção Brasileira na manhã deste domingo, 20. A equipe se prepara para a disputa do Mundial da modalidade, entre 22 e 30 de agosto, no hotel Hilton Habtoor City.
O campeonato é etapa obrigatória para qualificação aos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, e conta com 495 atletas de 78 países. O Brasil se faz presente com uma delegação de 23 halterofilistas, de 12 unidades federativas (AM, BA, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RS, SC e SP). A equipe é formada por aqueles que alcançaram os índices estabelecidos pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) durante a Primeira Fase Nacional do Circuito Loterias Caixa, em março, e o Campeonato Brasileiro Loterias Caixa, em abril, ambas no Centro de Treinamento Paralímpico.
Em Dubai, Mariana terá a oportunidade de buscar a primeira medalha de ouro do Brasil em Mundiais, após sair com a prata em Tbilisi, na Geórgia, no final de 2021, no que será a terceira participação da paulista em uma edição do campeonato. No caminho para o título, porém, estarão duas recordistas mundiais, vindas da Nigéria e da França.
Após seu primeiro treino nos Emirados Árabes, a paulista disse estar confiante. “Eu achei que faria uma carga menor neste primeiro dia, mas logo vi que estava muito bem. Então, eu e meu treinador aumentamos o peso. Inclusive, até pedi a ele que fizéssemos mais séries com as cargas mais altas. Seria uma só, mas estava tão bem que consegui fazer três repetições. Já estou no clima de Dubai, é a terceira vez que venho para cá, e já estou tranquila e acostumada com o fuso”, afirmou.
O Mundial de Dubai será o primeiro campeonato internacional de Mariana desde que a atleta mudou de categoria no início do ano, passando de até 73kg para até 79kg. Se, por um lado, a troca tende a trazer oponentes mais fortes, por outro, seu rápido desenvolvimento traz esperanças de bom resultado.
Em julho, a paulista levantou 150kg na Segunda Fase Nacional do Circuito Loterias Caixa, também no CT, o que seria o recorde Mundial na categoria, caso a competição contasse com uma banca de arbitragem estrangeira e, assim, tivesse validade internacional. O recorde atual é de 145kg e pertence, desde outubro de 2022, à nigeriana Bose Omolayo.
“Como eu consegui fazer uma marca muito boa em São Paulo, acredito que posso repeti-la aqui [Dubai] também e brigar firme. Não defini ainda as marcas com o treinador, mas sei que estarei preparada para o que ele definir, e temos muita confiança um no outro”, afirmou a paulista, que tem nanismo e compete no próximo sábado, 26.
Sobre a mudança de categoria, o técnico de Mariana, Valdecir Lopes, explica que o objetivo é garantir a ela marcas boas tanto na categoria até 73kg, na qual ela é medalhista paralímpica e mundial, como também na 79kg, a nova, para ter duas opções para os Jogos Paralímpicos de Paris 2024. A escolha definitiva deve ser feita em junho do ano que vem, e levará em conta quais adversárias deverão estar em cada classe.
Os rankings mundiais do ciclo dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024 das categorias até 73kg e até 79kg são liderados por duas nigerianas com a mesma marca de 145kg, o primeiro, por Kafila Almaruf e o segundo, pela recordista mundial nos 79kg Bose Omolayo. “A Mariana é competitiva nas duas categorias. Ela faz marcas que nos deixam confiantes para brigar por ouro paralímpico sem dúvida nenhuma”, disse Valdecir.
A estratégia de manter duas opções de categoria até os jogos, aliás, é adotada também por rivais. A francesa Ghazouani Souhad, recordista mundial na categoria até 73kg com a marca de 150kg suportados em maio de 2013, também optou por subir de categoria e enfrentará Mariana em Dubai.
Disputas acirradas até o final não são novidade para Mariana. Foi assim para conquistar a primeira medalha de ouro do halterofilismo paralímpico brasileiro, obtida nos Jogos de Tóquio 2020. Na ocasião, a paulista levantou 137kg e superou a chinesa Lili Xu, com 134kg. A adversária ainda tentou erguer 138kg, mas teve o movimento invalidado.
Já em dezembro de 2021, no Mundial, nova disputa quilo a quilo entre Mariana e Lili Xu. A competição terminou com ouro para a chinesa, com 137kg. Mariana ainda tentou suportar 138kg em seu terceiro levantamento para superar a rival, mas teve o movimento invalidado. Foi a primeira prata do Brasil em Mundiais.
Também em preparação para a estreia, o medalhista Mundial, bronze na Cidade do México em 2017 e vice-campeão paralímpico nos Jogos do Rio 2016, Evânio da Silva, 38, disse estar em boa forma para a competição após uma série de lesões que vinham atrapalhando seus resultados, inclusive nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020.
O atleta, nascido na Bahia, afirmou querer superar sua marca no Open das Américas de 2022 em Saint Louis, nos Estados Unidos, quando foi ouro ao erguer 202kg. “O nível de um Campeonato Mundial é muito alto, maior até do que nos Jogos Paralímpicos, porque cada país pode levar dois halterofilistas para o Mundial e nos Jogos, vai apenas um. Quando estamos aqui, vendo todos os atletas, a motivação e a inspiração são outras”, afirmou o baiano, que teve poliomielite aos seis meses.
Estreantes
Todos os halterofilistas da Seleção se reuniram na sala de treinos do hotel Hilton Habtoor City, onde estão hospedados e irão competir a partir de terça-feira, 22, para realizar exercícios no horário reservado para o Brasil, das 7h às 7h55.
A equipe ocupou nove dos bancos de supino montados nas laterais de um corredor longo. Os brasileiros dividiram o espaço com as delegações da Argentina, de Cuba e do Peru, com dois bancos cada uma. Ainda em adaptação ao fuso horário de Dubai, adiantado em sete horas em relação à Brasília, parte dos atletas optou por fazer o treino antes mesmo do café da manhã, em jejum.
Essas são as primeiras atividades em um Mundial para nove estreantes da Seleção em uma edição do campeonato, como a potiguar Alane Lima, 29. “É uma competição em um nível que todo atleta sonha em chegar, que você assiste no YouTube. A ficha de estar aqui ainda está caindo aos poucos. Olho para os atletas e lembro que via esses halterofilistas na TV e agora estou próxima a eles, em um campeonato de alto nível”, afirmou.
Alane disse estar satisfeita com o resultado do primeiro treino. “Estava meio receosa se conseguiria treinar bem, porque sou acostumada a treinar de tarde e ainda há todo o cansaço da viagem. Mas me surpreendi positivamente, consegui render muito bem e fiz marcas que não esperava fazer ainda, próximas ao que vou fazer na competição”, contou.
A paulista Laira Guimarães, 27, já havia usado no sábado, 19, os acessórios da academia do hotel, livre para todos os hóspedes a qualquer momento, durante a tarde e a noite.
Ela afirmou ter disposição para treinar ainda mais. “Meu ritmo de treino é muito longo, duas vezes por dia, de domingo a domingo. Têm atletas que se dão melhor com um treino mais curto perto da competição. Mas eu, pessoalmente, prefiro treinar mais, isso parece ativar mais meus músculos. Até por eu ser nova na modalidade [com menos de um ano de prática], minha maturidade muscular ainda precisa desenvolver mais”, opinou a halterofilista. “Ainda me pergunto se é um sonho isso que estou vivendo aqui, com esses atletas do mundo todo. Agora é buscar melhorar minha marca e, se possível, chegar a um top-10 Mundial”, completou.
Programa Loterias Caixa Atletas de Alto Nível
A atleta Mariana D’Andrea é integrante do Programa Loterias Caixa Atletas de Alto Nível, programa de patrocínio individual da Loterias Caixa que beneficia 91 atletas.
Time São Paulo
A atleta Mariana D’Andrea é integrante do Time São Paulo, parceria entre o CPB e a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, que beneficia 106 atletas de 14 modalidades. Patrocínios As Loterias Caixa são a patrocinadora oficial do halterofilismo.
Por: Comitê Paralímpico Brasileiro – Assessoria de Imprensa do Comitê Paralímpico Brasileiro