Com russos driblando regras, Dakar dá a largada no mundo esportivo de 2023. Veja onde assistir no Brasil
No momento em que o mundo assiste perplexo a algumas crises importantes, como o conflito Rússia-Ucrânia, o Rally Dakar volta a unir a comunidade internacional no Dia Mundial da Paz, neste 1º de janeiro, data celebrada desde 1968 como marco de um novo ciclo para o entendimento entre as nações.
E o Dakar, que larga justamente neste domingo para o primeiro dos 15 dias da prova, vai além disso: em uma amostra de força e diversidade, o maior desafio do automobilismo internacional reúne profissionais de 68 nacionalidades espalhados pelas equipes dos 455 veículos inscritos, destacando a presença de 54 mulheres na gigantesca caravana, segundo dados da ASO, organizadora da corrida.
“Este é meu primeiro Dakar e é sensacional ver a diversidade espalhada por todo o acampamento aqui na Arábia Saudita”, disse Lucas Moraes, atual bicampeão do Rally dos Sertões que vai fazer sua estreia na categoria principal, disputada pelos carros. “Isso é uma coisa bem especial no Dakar. O convívio com todos os tipos de pessoas, pilotos, mecânicos, homens e mulheres, de diversas origens e modos de pensar. O bivouac, nosso acampamento, é quase uma ONU do esporte. Por cerca de 20 dias estamos aqui juntos, competindo. Mas há um elo que nos liga, que é participarmos de algo maior, de um desafio incrível com os melhores atletas e profissionais de todo o mundo. Isso é único e contagiante”, completa o piloto.
190 países – A costura internacional promovida pelo Dakar conta com a exibição da prova para o mundo inteiro: 70 canais de TV atingirão 190 países. No Brasil, flashes da corrida e reportagens especiais poderão ser vistos pela ESPN, com o locutor Thiago Alves e o comentarista Edgard Mello Filho, e também nos boletins diários da repórter Letícia Datena nos canais Band e Bandsports. Assinantes do Star+ acompanharão imagens comentadas em inglês e espanhol.
Até pela origem da prova e força do rally naquele país, a França é a nacionalidade dominante, com 194 representantes, entre profissionais de todas as áreas. Os espanhóis vêm a seguir (119), com os holandeses formando o terceiro maior grupo (90 integrantes). O Brasil contará com 11 representantes, entre pilotos e navegadores (veja lista abaixo).
Russos, mas nem tanto – A universalidade da prova e a simbologia de sua data de largada, no entanto, não estão imunes às dificuldades da geopolítica internacional. Como em outros esportes, as equipes russas seriam banidas caso não condenassem a agressão à Ucrânia. A saída para alguns competidores daquele país foi se inscreverem por outras nacionalidades. É o caso de Denis Krotov, que disputará o Dakar como piloto do Quirguistão, e seu companheiro Konstantin Zhiltosv, navegador que se inscreveu sob a bandeira de Israel. Já o navegador Alexey Kuzmich correrá sem indicar nacionalidade, usando apenas o emblema da Federação Internacional do Automóvel (FIA).
Estrela russa e campeão nos quadriciclos em 2017, Sergei Kariakin protestou firmemente contra a imposição e decidiu não competir. Da mesma forma, a Kamaz, fábrica campeã por 19 vezes entre os caminhões, retirou suas equipes do Dakar.
Representante ucraniano – A Federação Internacional de Motociclismo foi menos maleável que sua correspondente dos automóveis, proibindo a participação de qualquer russo. Por isso, não haverá nascidos naquele país na categoria de duas rodas. Apesar de tudo isso, muitos cidadãos circulam pelo Dakar com passaporte emitidos na Rússia. A Ucrânia será representada pelo navegador Dmytro Tsyro, que disputará a categoria Protótipos Leves ao lado da piloto holandesa Anja Van Loon, uma das 54 mulheres que participam de alguma forma da aventura.
Além de Lucas Moraes, o Brasil conta com outros bons destaques (veja foto feita por Marcelo Machado de Melo, da agência brasileira Fotop). É o caso do piloto maranhense Marcelo Medeiros, da equipe TAG Racing, que é pentacampeão da categoria Quadricilos no Sertões e tenta a vitória nessa categoria no Dakar. Rodrigo Luppi e o experiente navegador Maykel Justo são nomes fortes entre os UTVs de produção. O navegador Gustavo Gugelmin, bicampeão entre os UTVs, tenta agora um bom resultado entre os Protótipos Leves, ao lado do talentoso piloto americano Austin Jones. Na mesma categoria, Pâmela Bozzano será a primeira piloto brasileira na competição, ao lado do navegador Carlos “Cadu” Sachs.
Papa comentou a data – Em uma mensagem distribuída pelo Vaticano na segunda semana de dezembro, o Papa Francisco comentou antecipadamente o Dia Mundial da Paz, mas externou a preocupação internacional com as crises em andamento, incluindo também a retomada da Covid-19.
“Na realidade, esta guerra, juntamente com todos os outros conflitos espalhados pelo globo, representa uma derrota não apenas para as partes diretamente envolvidas mas também para a humanidade inteira”, disse ele, referindo-se ao conflito Rússia-Ucrânia. “E enquanto para a Covid-19 se encontrou uma vacina, para a guerra ainda não se encontraram soluções adequadas. Com certeza, o vírus da guerra é mais difícil de derrotar do que aqueles que atingem o organismo humano”, continuou o sumo pontífice.
Diversidade em Números
O Dakar e suas nacionalidades na Arábia Saudita
Nações representadas: 68
Maior grupo: franceses, 194 profissionais
Estreantes: 150 profissionais
Mulheres: 54 profissionais
Brasileiros: 11 (pilotos e navegadores)
Veículos e Categorias
Carros: 73 (1)*
Motos: 125
Quadriciclos: 19 (1)
Protótipos Leves: 47 (5)
UTVs: 46 (4)
Caminhões: 56
Clássicos: 89
Total: 455 veículos
*Nota: entre parêntesis, competidores brasileiros naquela categoria.
45ª Edição do Rally Dakar
8.549km de percurso total. Especiais somam 4.706km
(Data / locais / total do dia / especial)
Prólogo: 31/12 – Sea Camp – 10 km / 10 km
01/01 – Sea Camp –> Sea Camp – 603 km / 368 km
02/01 – Sea Camp –> Al-‘Ula – 590 km / 431 km
03/01 – Al-‘Ula –> Ha’il – 669 km / 447 km
04/01 – Ha’il –> Ha’il – 573 km / 425 km
05/01 – Ha’il –> Ha’il – 646 km / 375 km
06/01 – Ha’il –> Ad Dawadimi – 876.68 km / 466 km
07/01 – Ad Dawadimi –> Ad Dawadimi – 641.47 km / 473 km
08/01 – Ad Dawadimi –> Riyadh – 722.41 km / 407 km
09/01 – Descanso – Riyadh
10/01 – Riyadh –> Haradh – 710 km / 439 km
11/01 – Haradh –> Shaybah – 623 km / 114 km
12/01 – Shaybah –> Empty Quarter – 426 km / 275 km
13/01 – Empty Quarter –> Shaybah – 375 km / 185 km
14/01 – Shaybah –> Al Hofuf – 669 km / 154 km
15/01 – Al Hofuf –> Dammam – 414 km / 136 km
Por: Rodolpho Siqueira / Gabriel Lima / Estela Craveiro