O handebol convencional, jogado nas quadras, é um dos esportes mais praticados no Brasil muito por conta de sua inclusão na grade curricular das escolas, na disciplina de Educação Física. Mas assim como o vôlei e o futebol, o handebol convencional também migrou para as areias. Foi então que no ano de 1993, na Itália, surgia o Handebol de praia, ou Beach Handebol.
E a modalidade não é encarada como lazer ou brincadeira, tendo em vista que foi devidamente regulamentada pela Federação Internacional de Handebol. O Beach Handebol tem inúmeras competições oficiais espalhadas pelo mundo dentro do calendário esportivo. Existem ligas nacionais, e até mesmo, um campeonato mundial da modalidade.
E existem algumas diferenças entre o jogo que é disputado nas quadras e nas areias. A primeira delas se refere ao tempo da partida. No beach handebol, a duração do jogo é menor, afinal de contas são apenas dois tempos de 10 minutos cada, que são chamados de sets. Caso a partida termina empatada, o jogo é decidido no Shout Out, uma espécie do cobranças de penalidades máximas. Esse procedimento é semelhante a um contra-ataque, quando o atleta faz um passe ao goleiro, que devolve a bola a esse atleta que está correndo em direção ao gol adversário para poder marcar o ponto. E mais: nas quadras, a partida de handebol tem duração de dois tempos de 30 minutos cada. Se o jogo terminar empatado, as equipes disputam uma prorrogação, com dois tempos de cinco minutos cada.
Outra diferença em relação ao handebol de quadra está relacionada às penalidades máximas. Um metro a menos de distância entre as “cobranças de penaltis”. Afinal de contas, na quadra o tiro é de 7 metros, e nas areias, são seis metros que separam o cobrador do tiro livre direto e o goleiro adversário. O sistema de pontuação das partidas de beach handebol também é diferente. Nas partidas disputadas em solo de areia, existe a possibilidade do gol valer dois pontos. Isso acontece quando o tento é marcado em jogada aérea. Caso o goleiro, jogando na linha, faça um gol, sua equipe também marca dois pontos. Outros gols que valem dois pontos são: o gol do especialista, o gol de giro 360°, o gol na fase aérea e o gol de costas.
O espaço físico em que as modalidades são disputadas também é distinto. A quadra de Beach Handebol tem 12 metros de largura e 27 metros de comprimento; ao passo que a quadra convencional mede 40 metros de comprimento, por 20 de largura. Outro detalhe importante está no solo. O chão das quadras de Beach Handebol tem 40 centímetros de profundidade de areia (por vezes não se joga na praia, mas sim em campos artificiais, mais utilizado nas competições internacionais).
Para saber mais sobre a modalidade, o Jogo em Pauta conversou com a especialista Thais Nascimento, que defende a equipe do 360°, da cidade de Campinas, nas partidas disputadas em solo de areia. A atleta atua neste esporte desde 2008, e relata detalhes sobre a modalidade. “Apesar de se chamar handebol também, mas sendo de areia, a única semelhança é jogar com a mão, do resto a dinâmica do jogo é totalmente diferente”; explicou Thais.
A jogadora explica que assim como várias modalidades esportivas, o Beach Handebol ainda precisa de muito apoio. E que mesmo com a conquista do campeonato mundial feminino nas quadras em 2013, a situação do handebol brasileiro em relação aos campeonatos internos não evoluiu. “Assim como em vários esportes, falta incentivo, além de pessoas que invistam e acreditem na modalidade”; lamentou Thais. A jogadora ainda ressaltou que a situação tanto do handebol convencional, quanto do disputado na areia é muito ruim. Entretanto, o esforço e a dedicação para se disputar o esporte em alto nível é uma exigência fundamental. “Existem diferenças, o jogo disputado na areia tem duração menor de tempo, mas em compensação, a intensidade da partida é diferente. Além disso, durante as competições, fazemos em média 3 jogos num único dia, tem a questão do piso ser diferente, além da partida ser jogada num ambiente aberto”; explicou Thais.
Naira Almeida, que atuou como goleira da equipe feminina de handebol do Santo André, migrou da quadra para o Beach Handebol, e é companheira de Thais na equipe campineira do 360°. Ela iniciou os treinamentos no handebol de areia em setembro do ano passado, e passou por algumas dificuldades na adaptação do jogo da quadra convencional para a areia. “O espaço é reduzido e o número de jogadoras nas quadras de areia também é inferior em relação ao handebol da quadra convencional”. Segundo Naira, a adaptação para jogar em um piso diferente foi muito difícil. “Você sente diferença na locomoção, além de precisar ter mais agilidade, e um preparo físico melhor”; explicou a goleira.
Naira também lamentou a falta de apoio e incentivo por parte de empresários e poder público em relação ao beach handebol. “Eu jogo porque sou apaixonada pelo esporte. Precisamos ir atrás de patrocínio para custear as viagens. As partidas do campeonato brasileiro são disputadas em outros estados, e inclusive fazemos algumas ações para obter recursos financeiros para custear essas viagens, senão não temos como atuar nessas competições. Mas espero que no futuro a situação melhore”; contou a otimista goleira do time campineiro do 360°.
Por Ivan Marconato para o site Jogo em Pauta (www.jogoempauta.com)