As finais da NBA começaram e prometem jogos de altíssimo nível técnico entre Milwaukee Bucks e Phoenix Suns. Mas vale destacar que os playoffs desta temporada foram recheados de lesões de grandes atletas, desfalcando seus times em diversos momentos. Inclusive, o grego Giannis Antetokounmpo, estrela do Bucks, ficou de fora dos jogos 5 e 6, depois de sofrer uma hiperextensão do joelho no jogo contra o Atlanta Hawks.
Casos assim, como as lesões de Jamal Murray, Joel Embiid, James Harden, Kyrie Irving e Kawhi Leonard, ilustram o pensamento de muitos jogadores, traduzidos na declaração do astro LeBron James (Los Angeles Lakers), sobre o excesso de jogos em uma temporada mais concentrada devido ao período de pandemia.
“Vemos que não são traumas isolados, mas que existe uma relação entre as lesões, a sobrecarga e a exaustão dos atletas ao final da temporada”, fala o médico do esporte e da seleção brasileira de basquete feminino, Paulo Roberto Szeles.
Mesmo com a temporada mais curta (72 jogos no lugar dos 82 que costumam ser), o médico explica que a falta de tempo para uma preparação física adequada, assim como para recuperação entre as partidas, impacta diretamente na performance dos jogadores, mesmo quando expostos a menor quantidade de jogos. Lembrando que a temporada 19/20 da NBA teve duas paralisações em consequência da pandemia, deixando um curto espaço de tempo entre as temporadas e, com as olimpíadas chegando, vemos um movimento semelhante.
“Quando não temos um condicionamento físico sólido, o atleta fica ainda mais exposto a sobrecargas de treinos e jogos, independente do esporte. E em atletas de alto rendimento de esportes de alta intensidade e impacto, como é o basquete, uma boa preparação física é mandatória. Se eu tiver um atleta menos preparado, ele estará exposto a um maior volume de carga, proporcionalmente, em relação aos com melhor condicionamento. Isso eleva o risco de lesões por overuse”, completa Szeles.
O especialista também explica que esta carga é cumulativa ao longo da temporada e, portanto, quanto mais próximo da fase final de um campeonato, maiores as chances de ter uma sequência significativa de lesões, impactando de forma importante na equipe como um todo.
“Percebemos um movimento de lesões que chamamos de atraumáticas, ou seja, que não são causadas por um acidente em quadra, por exemplo, mas pelo excesso de repetições, superiores à capacidade do organismo de se adaptar a elas, como tendinopatias, lesões musculares, periostites e fraturas por estresse. Já quando temos um atleta bem condicionado, atuamos de forma preventiva, aumentando a capacidade do organismo de absorver essa carga cumulativa. É sempre mais interessante prevenir que tratar lesões”, diz o médico do esporte.
O assunto ficou ainda mais latente quando LeBron fez uma série de publicações no seu perfil de uma rede social, dizendo que o excesso de jogos estava tirando grandes estrelas de quadra, reabrindo um debate do ponto de vista comercial – e não dá para negar que o torneio movimenta milhões de dólares nos eua. Segundo Szeles, a necessidade do descanso entre temporadas e entre jogos é indiscutível, mas o “destreinamento” pela pandemia certamente foi um fator adicional importantíssimo para esta enxurrada de lesões nesta temporada.
“A preparação esportiva tem vários componentes, como a parte física, técnica, nutricional e a recuperação física, muitas vezes negligenciada. Não dar devida importância para isso é arriscar atletas e equipes a perderem seus astros no momento de maior importância, ao final da temporada. Por mais completo que seja um jogador, acima de tudo, ele é um ser humano e nosso corpo tem limitações que precisam ser respeitadas. passar por cima disso pode até abreviar a carreira de grandes nomes do esporte”, enfatiza o médico do esporte. Sobre Dr. Paulo Roberto Szeles
Médico com Título de Especialista em Medicina Esportiva e em Ortopedia e Traumatologia. Pós Graduado em Traumatologia do Esporte e Fisiologia do exercício pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde também fez Mestrado em Medicina Esportiva com foco em lesões de CrossFit.
Atualmente é Médico da Seleção Brasileira de Basquete Feminino e coordena a Residência Médica em Medicina Esportiva da UNIFESP.
Já atuou como médico em grandes eventos Esportivos, como Copa do Mundo do Brasil (2014), Jogos Olímpicos Rio 2016, Copa América de Futebol (2019) e Basquete (2009 e 2017), Campeonato Mundial de Basquete (2009 e 2010).
Por: Yara Simões – Doppler