Tenista número 2 do mundo decidiu abandonar nesta semana o Torneio de Roland Garros para cuidar da saúde mental; Psiquiatra orienta maneiras de apoiar pessoas que enfrentam o problema
A edição 2021 de um dos principais torneios de Grand Slam de tênis foi sacudida neste início de semana com a desistência de Naomi Osaka. A atleta de 23 anos, que ocupa a segunda colocação no ranking mundial, decidiu deixar a disputa pelo título de Roland Garros após não participar de uma entrevista coletiva que, segundo as regras da competição, é obrigatória após cada jogo. Diante da recusa em atender os jornalistas, a tenista, que havia vencido a partida contra a romena Patricia Maria Tig na primeira rodada da competição, foi punida pela organização do torneio com uma multa no valor de R$ 75 mil e foi ameaçada com punições mais severas, incluindo expulsão, caso o comportamento de silêncio voltasse a se repetir.
Em um desabafo nas redes sociais, a Naomi afirmou não se sentir confortável para conversar com a imprensa e pediu compreensão. Ela afirmou estar passando por um momento delicado relacionado a sua saúde mental e, na segunda-feira (31/05) anunciou oficialmente que optou por abandonar o torneio diante das rígidas regras impostas aos tenistas profissionais pela WTA, a ATP e a ITF (entidades máximas do tênis).
“A verdade é que eu tenho sofrido longos períodos de depressão desde o US Open de 2018 e eu tive muita dificuldade em lidar com isso. Todos que me conhecem sabem que sou introvertida, e todos que me viram em torneios notam que eu geralmente estou com fones de ouvido porque eles ajudam a aplacar minha ansiedade. Embora a imprensa especializada em tênis tenha sempre sido carinhosa, eu não sou uma oradora natural e tenho enormes crises antes de falar com a imprensa”, desabafou Naomi Osaka em comunicado. Antes mesmo do início de Roland Garros, a tenista japonesa já havia postado em suas redes sociais que evitaria falar com a imprensa no torneio por estar preocupada com a “saúde mental dos atletas”.
O caso de Naomi Osaka não é exceção. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que em todo o mundo mais de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão – uma situação que é qualificada como epidêmica e um problema grave de saúde pública. Por aqui, 5,8% dos brasileiros (cerca de 12 milhões de pessoas) sofrem com o transtorno. É a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos, ainda de acordo com a entidade,
“Ainda há um grande tabu em torno das questões que envolvem a saúde mental. É preciso conscientizar e desmistificar o assunto para que quem sofre com esse tipo de transtorno possa receber o diagnóstico preciso e o tratamento adequado, de acordo com cada caso. O combate à depressão depende de acompanhamento médico especializado, mas também de uma rede de amparo formada por familiares e amigos”, explica Marco Abud, médico psiquiatra e fundador do canal Saúde da Mente, que atualmente conta com mais de 1,5 milhão de inscritos no YouTube – o maior sobre a temática no Brasil.
Segundo o especialista, auxiliar alguém com um quadro depressivo requer um pouco mais do que apenas boa vontade ou intencionalidade. A doença nada tem a ver com variações de humor diárias ou pequenas tristezas. Ela geralmente causa uma série de disfunções que afetam o desempenho no trabalho, nos estudos, nos treinos e no lar. Por isso, é essencial não apenas dedicar atenção, como também incentivar de forma ativa o paciente – uma ação que demanda técnicas e cuidados específicos neste apoio.
Abaixo, Marco Abud destaca oito atitudes que podem contribuir no auxílio a quem tem depressão:
- Informe-se sobre os sintomas do quadro depressivo
A familiaridade com o tema sobre o quadro depressivo, como funciona o diagnóstico, os tipos de tratamento sobre a doença, permite auxiliar quem sofre desse mal. Informe-se antes de oferecer ajuda.
- Ouvir sem juízo de valores
Ouvir sem julgamentos com uma postura acolhedora é essencial, geralmente as pessoas em um quadro de depressão já possuem uma autocrítica, então a escuta não funciona como resolução de problemas ou aconselhamento. Apenas, escute!
- Entenda o tratamento
A depressão é tratada com terapia e medicação e a depender dos remédios pode-se ter efeitos colaterais, por isso conhecer os sintomas na compreensão de que a pessoa em um quadro depressivo vai passar por um processo com oscilações de humor é essencial. Por isso, compreenda o tratamento por meio da informação.
- Ajude ativamente
A pessoa em um quadro depressivo geralmente não pede nada, por isso a disposição em auxiliar deve ser ativa, desde lavar a louça, ou auxiliar em compras. Ajude e se disponha, se puder.
- A pessoa está com depressão, ela não é depressiva.
A pessoa está vivenciando um quadro cerebral diferente do habitual, naturalmente as respostas dadas a diferentes situações serão outras. A personalidade dela é diferente do quadro depressivo e se torna importante durante o tratamento diferenciar esses momentos. Evite julgamentos!
- Evite a culpa
A própria depressão faz com que a execução de tarefas simples da rotina esteja prejudicada, devido à falta de energia e concentração para resolução de problemas. Isso é incontrolável e a pessoa com depressão se culpa muito por isso.
Sendo assim, compreenda o processo para não prejudicar o tratamento do paciente. Ajude-o a caminhar sem culpas.
- Ofereça a esperança
O acolhimento é fundamental para se entender o processo, ele pode ser difícil, mas não impossível. É preciso manter a esperança.
- Procure Ajuda
O caso de depressão pode durar tempo, então o cuidador também precisa de atenção e acompanhamento para que durante o processo tenha o suporte emocional necessário e mantenha os princípios e os cuidados da pessoa com o quadro depressivo. Cuide-se também!
Por: Digital Trix