Considerando a Nota Oficial da Confederação Brasileira de Basquete – CBB divulgada em seu facebook, datada de 17/08/2020, com repercussões na imprensa em geral, versando sobre o apoio ao calendário de competições para o ano de 2021 e próximo ciclo olímpico, a qual não condiz absolutamente com a verdade, o Comitê Brasileiro de Clubes – CBC vem a público registrar os fatos e esclarecer à comunidade esportiva sobre a condução das nossas ações neste momento.
Antes de tudo, é oportuno dizer que as consabidas divergências políticas existentes entre a CBB e a Liga Nacional de Basquete – LNB, inclusive, por disputa de recursos para a mesma finalidade – desenvolvimento do basquete nacional – junto ao CBC, não pode ser palco para a disseminação de uma profusão de opiniões destituídas de tecnicidade e juridicidade, de forma a atingir o bom nome do CBC junto à comunidade esportiva em geral. Isto é inaceitável.
Pois bem. Segundo o art. 3º de seu Estatuto Social, o CBC tem como objetivo social o incentivo, a promoção, o aprimoramento e o planejamento das atividades de formação de atletas olímpicos, assim compreendidas todas as categorias em que o atleta esteja em preparação para os Jogos Olímpicos, conforme expressamente previsto em seu Programa de Formação de Atletas, disponível para leitura no site do CBC na internet.
Além disto, segundo o art. 6º, parágrafo único, do Decreto nº 7.984/2013, o CBC, ao lado do Comitê Olímpico do Brasil –COB e do Comitê Paralímpico Brasileiro – CPB, constitui subsistema específico dentro do Sistema Nacional do Desporto – SND, previsto no art. 13, da Lei nº 9.615/1.998, o que demonstra o papel institucional do CBC na formação do atleta olímpico em suas múltiplas fases de preparação e treinamento para os Jogos Olímpicos.
Dentro desta perspectiva, os Campeonatos Brasileiros Interclubes – CBIs foram concebidos com o objetivo de incentivar a realização de competições oficiais, de âmbito nacional, no contexto do SND, assim como de viabilizar a participação dos atletas praticantes e em treinamento para os Jogos Olímpicos no subsistema clubístico nessas mesmas competições, de modo a alavancar este importante eixo de formação de atletas. Tudo isso para que o atleta possa chegar no ponto máximo de seu desempenho e converter sua prática/treinamento e ensinamentos recebidos em resultados, através da competição esportiva.
Na prática, esta iniciativa afigurou-se inovadora não só pela complexidade na articulação sistêmica entre as diferentes entidades e atores envolvidos na realização dos Campeonatos, mas, principalmente pela ausência, até então, de uma fonte perene de fomento para a participação de atletas em treinamento para os Jogos Olímpicos de todas as modalidades em competições oficiais.
Para esta engrenagem esportiva funcionar de forma legítima, o CBC celebra, voluntariamente, parcerias com as Confederações e Ligas esportivas, com o objetivo de apoiar a realização dos CBIs, garantindo-se a oficialidade das competições e dos resultados esportivos alcançados.
É bom registrar que as competições oficiais de rendimento de esportes olímpicos são de titularidade de cada Confederação esportiva, reconhecida pela respectiva Federação Internacional, motivo pelo qual se realizam independentemente do apoio ou não do CBC. Ou seja, cada Confederação ou Liga esportiva possui autonomia de gestão para celebrar ou não parceria com este Comitê, assim como o CBC possui a mesma autonomia para firmar ou não a parceria, tudo depende de interesses convergentes e legítimos.
No caso do basquete, desde o ano de 2017 o CBC mantêm parceria com a CBB e com a LNB para a realização de CBIs, sendo que, para além disto, estamos nesse momento iniciando os procedimentos da parceria com a Liga Feminina de Basquete – LFB, o que demonstra a pluralidade de entidades com o que o CBC se relaciona para o desenvolvimento do basquete nacional, respeitando o papel e a importância de cada uma dentro do SND e sua forma de atuação e interação com o sistema clubísitico, sem qualquer distinção e de forma transparente.
A própria divulgação da CBB no facebook apresenta o comparativo dos números: “A parceria entre o CBC e a CBB para o Campeonato Brasileiro Interclubes de Base começou em 2017 e avançou de forma substancial nos últimos três anos, trazendo desenvolvimento para árbitros, atletas, técnicos e clubes, além de ampliar o número de clubes filiados ao CBC. (…) Veja abaixo o panorama:
2019 – 10 campeonatos (5 masculinos e 5 femininos) – 115 árbitros (49 femininos e 66 masculinos) – 353 jogos (99 femininos e 264 masculinos) – 122 equipes (34 femininos e 88 masculinos) – 1464 atletas (408 femininos e 1056 masculinos) – 18 estados (5 femininos e 13 masculinos) | (…)2021 (Expectativa com o próximo calendário) – 10 campeonatos – 138 árbitros – 444 jogos – 98 equipes – 1440 atletas” |
Verifica-se na citação, que, além da qualificação no sistema de disputa, não houve qualquer redução das Categorias de Base, quando comparamos a proposta para 2021, com 2019, o último ano de realização dos Campeonatos Brasileiros Interclubes® – CBI, visto que em 2020 os campeonatos foram suspensos.
Nesse período de pandemia mundial do COVID19, diversos clubes descontinuaram suas equipes, portanto, ampliar o apoio ao Basquete em sua plenitude no cenário nacional, se torna essencial para manter o desenvolvimento do esporte. A importância de apoiar a categoria principal do Basquete, que é a oficial dos Jogos Olímpicos, é fundamental na estratégia de fortalecer a imagem do ídolo que servirá de espelho para as categorias de base.
No momento atual, em que as entidades esportivas se organizam para a possível retomada de competições ainda em 2020, paralisadas em todo o país em razão da pandemia, o CBC realiza o planejamento técnico e financeiro, em conjunto com as Confederações e Ligas esportivas, do Calendário dos CBI para ano de 2021, por meio da realização de reuniões conjuntas com todas as entidades de esportes olímpicos.
No planejamento que está em curso, o CBC já realizou reuniões com 20 (vinte) Confederações e Ligas esportivas, e até o momento tem recebido retorno muito positivo de todas as entidades, sem exceção, inclusive da própria CBB (que hoje se manifesta contrariamente), sobre a forma com que este Comitê tem conduzido a política de desenvolvimento esportivo, pautada em seu Mapa Estratégico, que se baseia em 3 (três) premissas básicas:
- Meritocracia: melhores resultados esportivos;
- Qualificação do sistema de disputa: contemplar desde as categorias de base até as categorias principais;
- Perenidade da política: continuidade do investimento dentro dos limites orçamentários.
Nesta perspectiva, as decisões estão sendo tomadas em conjunto com cada Confederação ou Liga esportiva, considerando, de um lado, as premissas técnicas estabelecidas, e de outro, os limites orçamentários, com vistas ao aprimoramento e melhor organização do sistema esportivo que cerca o CBC, tudo de forma equilibrada para atender todas as interfaces de seu Programa de Formação de Atletas Olímpicos.
No caso da reunião havida com a CBB, a entidade não foi representada por seu Presidente, Guy Peixoto, mas, por seu Secretário-Geral, Carlos Fontenelle. Tal circunstância não permitiu ao líder da entidade compreender, pessoalmente, a estratégia e proposta acordada para o desenvolvimento das competições de base no país, o que desencadeou, a partir da aludida Nota da CBB, uma série de inverídicas informações relativas ao direcionamento de recursos à LNB, em detrimento das competições de base abrigadas no calendário da CBB, uma vez que a base continuará, efetivamente, contando com o apoio do CBC.
Dentro deste contexto, é necessário registrar formalmente que causou muita estranheza ao CBC as manifestações da CBB no sentido de que é “lamentável a opção do CBC de diminuir o investimento no basquete de base em prol do profissional”, visto que o basquete é o esporte economicamente mais favorecido até o momento na previsão orçamentária do CBC para o próximo ciclo olímpico.
Ora, assim como a CBB possui autonomia para definir a estratégia de desenvolvimento de sua modalidade esportiva, o CBC, por sua vez, tem autonomia para desenvolver sua estratégia de investimento no esporte, que é norteada por um Programa de Formação de Atletas, isto é, ao CBC cabe definir onde e como aplicar seus recursos, sem qualquer interferência.
Diferente de outros esportes que são administrados por apenas 1 (uma) entidade nacional, no caso do basquete, a realização das competições nacionais fica a cargo de 3 (três) entidades que potencialmente podem celebrar parcerias com o CBC, o que atrai uma maior e mais complexa organização estratégica para o fechamento técnico e orçamentário das parcerias.
Além de tudo isto, é importante registrar publicamente que todos os compromissos assumidos pelo CBC junto a CBB sempre foram regular e tempestivamente cumpridos, não se afeiçoando justo e aceitável os ataques lançados contra o CBC, pelo simples fato de estarmos também apoiando o calendário da LNB, dentro de nossas funções institucionais, esportivas e alinhadas com nossa estratégia de investimento no basquete para o próximo ciclo olímpico.
Temos convicção que o trabalho que está sendo realizado contribuirá sobremaneira com a evolução dos esportes olímpicos no país, ampliando a base e formando cada vez mais ídolos que inspiram crianças e jovens a seguir seu caminho no esporte.
Os nossos planos para o basquete brasileiro são amplos e arrojados. Queremos acreditar que esse posicionamento da CBB foi apenas um equívoco por não conhecer integralmente a proposta que contempla as categorias de base, que de forma alguma serão desassistidas. É antes de tudo uma proposta segura e responsável, que poderá ampliar e qualificar o desenvolvimento do basquete nas próximas décadas. Resta saber quem seguirá conosco.
Por fim, em que pese todo o respeito aos membros da entidade, caberá à CBB, que possui autonomia de gestão sobre o basquete brasileiro e, assim, poderá realizar as competições com ou sem o apoio do CBC, reavaliar a manutenção das tratativas até então estabelecidas para o ano de 2021, pois na visão deste Comitê não é possível levar a frente uma parceria com entidade que qualifica como lamentável as decisões tomadas de forma conjunta, negociada e amigável, em prol do desenvolvimento do basquete nacional.
Jair Alfredo Pereira
Presidente do Comitê Brasileiro de Clubes
Por: CBC Clubes