Depois de ser um dos primeiros casos mais graves de jovens que foram contaminados no país pelo vírus invisível, em meados de março, o piloto de apenas 23 anos fez seu primeiro treino no Autódromo Internacional de Curitiba, onde pôde avaliar o seu estado físico atual e também o próprio desempenho do seu novo Toyota Corolla da Stock
Se três meses atrás faltou fôlego para o jovem piloto Bruno Baptista, quando até teve de ser internado no hospital por ter testado positivo no exame de Covid-19, nesta última terça-feira (16/06), não faltou ar e muito menos emoção pra ele voltar a fazer o primeiro teste de pista após a difícil recuperação física prejudicada pela grave doença.
Se no teste do hospital, ele torceu como nunca para ter resultado negativo, desta vez, no Autódromo Internacional de Curitiba, depois de três meses praticamente de quarentena, o seu maior desejo foi o de conseguir um benéfico teste não só dos seus pulmões afetados em quase 50% pelo vírus e também do novo carro da equipe Toyota RCM Racing, com os apoios das empresas Webmotors, HERO, Pro Automotive, Loctite e NGK do Brasil.
A primeira etapa do Campeonato Brasileiro de Stock 2020 deve ocorrer no início de julho, no Autódromo Velo Città, onde na temporada passada o Bruno Baptista conseguiu justamente a sua primeira vitória na principal categoria do automobilismo brasileiro. Naquele dia, ainda com 22 anos, Bruno foi o piloto mais jovem a vencer na temporada passada e o quarto mais novo dos 40 anos de história da Stock no Brasil.
Mesmo treinando diariamente com acompanhamento de seu preparador físico Vanderlei Pereira, Bruno Baptista ainda não chegou na mesma forma física que se encontrava no momento que foi contaminado.
“O ataque do Covid-19 quando chega nos pulmões, que foi o meu caso, deixa você praticamente sem ar até para os mínimos esforços. Em pouquíssimo tempo, se a pessoa não for atendida imediatamente, é muito provável que não sobreviva. Eu, graças a Deus, tive uma excelente assistência médica, porém, não posso esconder que chorei quase todas as noites da semana que fiquei internado, achando até que podia morrer”, relembra o piloto.
Segundo Bruno, o vírus deixou-o quase sem ar num curto espaço de tempo. Pior que a recuperação dos pulmões é muito lenta.
“Você precisa fazer uma fisioterapia intensa de sopro para forçar os pulmões e, paralelamente, ir andando devagar, aumentando o ritmo dos passos, a cada semana. Exercícios também contribuem muito pra quem necessita de estar em plena forma física dentro do carro de corrida. Mas a melhora é muito pequena. Tanto que, até agora, ainda não estou 100% da minha forma anterior, mas acredito que vou chegar muito perto dela na corrida”, adianta Bruno.
Em Curitiba, Bruno pilotou pela primeira vez o novo Toyota Carolla com chassi monobloco, motor V8 6.8 movido a etanol, capaz de render 460 cv de potência e torque de 61,2 kgfm em utilização normal e até 550 cv e torque de 71,4 kgfm com o “push to pass” (botão de ultrapassagem acionado).
Equipado com câmbio de dupla embreagem, seis marchas sequenciais e automatizadas, com trocas feitas manualmente por meio de borboletas atrás do volante, o Toyota Corolla agradou o jovem piloto nos três treinos de 40 minutos que fez ao longo do dia na pista paranaense, que terminou praticamente no final do dia.
“Gostei do novo carro, mas como ficou propositadamente com menor carga aerodinâmica (downforce), em relação ao da temporada passada, a sua pilotagem ficou mais arisca. Ou seja, certamente vai dar mais trabalho para os pilotos e a própria equipe para se encontrar a melhor aerodinâmica possível entre as retas e curvas de qualquer circuito”, já adiantou o piloto.
Bruno também achou que “o público vai gostar mais das corridas deste ano porque o carro está mais barulhento. É claro que isso só depois mesmo que for liberada a entrada de pessoas nos autódromos. Acredito e torço para ser o mais breve possível, para que todos voltem a sentir a mesma emoção que eu tive ontem ao entrar com o meu Toyota na pista”.
Quanto ao desempenho final Bruno gostou do comportamento do novo motor, mas comentou que “com o maior peso da carroceria atual, neste primeiro treino, o tempo de volta piorou um pouco. Mas isso, por outro lado, é bom pra equilibrar ainda mais o desempenho entre todos os carros. Se a Stock já era boa antes, imagine como não vai ficar agora com os carros andando ainda mais próximos. Adianto para os fãs da categoria que vão vibrar muito na frente da tv em casa”.
Na pista, todos os integrantes da equipe utilizaram máscaras pela primeira vez num treino de Stock Car. Para o piloto, a utilização do importante acessório contra o Covid-19 não atrapalhou em quase nada.
“Já estou tão acostumado a usar máscara, que agora até estranho a falta dela quando entro na pista para treinar”, revelou o piloto. Bruno aproveitou para elogiar os organizadores da Stock dizendo que “este primeiro treino foi tão bem administrado em relação às regras contra o Coronavírus, que não tenho dúvida que farão de tudo para os envolvidos no trabalho da primeira corrida ficarem totalmente imunes”.
Quanto ao fato de já ter tido Coronavírus ser uma vantagem de não ter mais risco de contrair a doença, Bruno falou que “o melhor é não arriscar de jeito nenhum. Quem já sofreu como eu num hospital não vai querer pegar de novo, principalmente agora que a China está divulgando que alguns médicos já contraíram pela segunda vez. Foi lá que começou a divulgação da primeira contaminação, que a maioria dos países não deram bola no início. Agora, o melhor é já ir acreditando que isso também pode ocorrer”.
Por: Charles Marzanasco Filho